Primeira edição do C6 Fest apresenta panorama diverso e multigeracional da música mundial

Evento acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro em maio e resgata a tradição dos celebrados festivais realizados pela Dueto Produções nos últimos 40 anos

02 de MARÇO de 2023

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Primeira edição do C6 Fest apresenta panorama diverso e multigeracional da música mundial

O amplo e heterogêneo recorte curatorial divide-se em categorias distintas. A expressão negra do soul, funk e R&B de diversos cantos do mundo é um dos destaques da grade. O multipremiado cantor e compositor Jon Batiste, vencedor de cinco prêmios Grammy em 2022, incluindo o de melhor álbum, além do Oscar e Globo de Ouro de melhor trilha sonora original, pelo longa-metragem Soul, estreia em solo brasileiro com a sonoridade herdada da tradição cultural de Nova Orleans.  Com 22 anos de idade, a cantora e poeta inglesa Arlo Parks desembarca no país logo antes da turnê de seu ainda inédito álbum My Soft Machine, o segundo de sua carreira, com lançamento previsto para o dia 26 de maio.

Expoentes da música africana, o camaronês Blick Bassy traz a sonoridade moldada pela fusão da cultura bassa com referências de soul e blues, e o nigerense Mdou Moctar, conhecido como o "Hendrix do Saara", apresenta o gênero batizado de "blues do deserto", que promove a interseção entre a cultura tuaregue e o pop contemporâneo.

"O processo de construção do lineup envolve uma negociação e debate intenso e exaustivo entre os curadores, mas é isso que desde sempre garante que os festivais organizados pela Dueto, como o C6 Fest, sejam capazes de marcar o presente e ditar o futuro. Quando olhamos para a programação de outros festivais no presente, os headliners se parecem com os que trouxemos para o Brasil entre 2005 e 2008. E não são poucos: The Strokes, The Killers, Arctic Monkeys, Kanye West, MIA, De La Soul, PJ Harvey, Primal Scream, Yeah Yeah Yeahs, DJ Shadow, Dizzee Rascal, Elvis Costello, Patti Smith, The Mars Volta, Kings of Leon. Queremos que o novo festival seja assim também", explica Ronaldo Lemos.

O novo indie é representado no C6 Fest pelas incensadas bandas britânicas Black Country, New Road e Dry Cleaning, ambas adeptas do canto falado; pela musa da cena contemporânea, Weyes Blood, com sua música experimental e psicodélica; e pelo rock norte-americano do já renomado The War on Drugs. Comandado pelo cantor transsexual Chris, o grupo francês Christine and the Queens apresenta no festival o som que faz a ponte entre o indie e o pop.

"Somos pessoas bem curiosas e ecléticas, gostamos de misturas surpreendentes. É um trabalho também um tanto mediúnico: não fazemos o festival para nos agradar, tentamos adivinhar o que o que o público quer ver e muitas vezes nem sabe que quer ver. É criação coletiva o tempo todo", conta Hermano Vianna. "O mundo mudou muito do Free Jazz para cá. Antes a circulação das informações era mais centralizada pelas gravadoras, que influenciavam todo o panorama musical global. Hoje está tudo bem fragmentado, com muitas bolhas diferentes com sucessos e novidades distintas. Adoramos furar bolhas e colocar mundos diversos em contatos imediatos. Não há mais fronteiras claras entre o que antes se chamava de mainstream e de underground", continua.

A programação traz três pioneiros da música eletrônica. Formada em 1970, a banda alemã Kraftwerk, nome mais influente do gênero, faz a estreia mundial de sua nova turnê no C6 Fest; os galeses do Underworld, revolucionários da cena britânica no final dos anos 1980, tocam suas composições atmosféricas e progressivas; e o Model 500, capitaneado pelo norte-americano Juan Atkins, mostra no festival o som que deu origem ao "techno", termo criado por ele.

Na mesma linha dos festivais anteriores produzidos pela Dueto, o jazz e suas diversas vertentes ocupam uma fatia considerável do lineup. O programa é encabeçado pela jovem cantora nova-iorquina Samara Joy. Com 23 anos e já considerada uma das grandes vozes do gênero, conquistou dois prêmios na última edição do Grammy, nas categorias revelação e álbum de jazz vocal.

"Desde os primórdios do Free Jazz, quando apostamos em nomes como Bobby McFerrin, que era um desconhecido à época, tentamos antecipar atrações que estejam para acontecer, como é o caso agora da Samara Joy. A diversidade no elenco é fundamental e a pesquisa dos curadores reflete a busca eterna de cada um", diz Zé Nogueira. "Estamos sempre acompanhando os trabalhos e talentos mais recentes. Hoje temos uma grande leva de artistas novos que despontam ao redor no mundo inteiro já com notável maturidade", complementa Pedro Albuquerque.

O trio inglês The Comet is Coming, liderado pelo saxofonista Shabaka Hutchings, leva ao palco sua fusão de jazz, funk e eletrônica, enquanto a sua conterrânea Nubya Garcia, também no sax, apresenta a sua versão do estilo que mistura influências de Sonny Rollins John Coltrane com o dub e ritmos latino-americanos.

Sensação da internet, o jovem duo Domi & JD Beck, tecladista francesa e baterista americano, respectivamente, ratifica no festival por que são hoje considerados dois prodígios do jazz rock progressivo.  Evidência de que a música atravessa qualquer fronteira, o pianista armênio Tigran Hamasyan promove com o seu trio um diálogo entre a tradição e folclore do leste europeu com sonoridades contemporâneas, do jazz ao heavy metal. Improvisador nato e conhecido pela coragem de misturar estilos, tempos, tonalidades e texturas que transitam entre o jazz, a música clássica e o pop, o guitarrista californiano Julian Lage completa a programação dedicada ao gênero.

Os shows temáticos, uma das marcas da primeira edição do C6 Fest, foram criados pela curadoria exclusivamente para a homenagear a música brasileira no festival. No tributo a Zuza Homem de Mello, a Orquestra Ouro Negro convidará ao palco Fabiana Cozza, Gabriel Grossi e Mônica Salmaso para um repertório de canções de Moacir Santos, um dos compositores mais admirados pelo musicólogo, reconhecido ao longo da vida como um dos mais relevantes jornalistas do gênero no país.

O ano de 1973 foi histórico para a produção fonográfica brasileira, vide os álbuns Araçá Azul, de Caetano VelosoTodos os Olhos, de Tom ZéNervos de Aço, de Paulinho da Viola, e Pérola Negra, de Luiz MelodiaKrig Ha Bandolo, de Raul Seixas, e o álbum de estreia do Secos & Molhados, entre outros. Para celebrar o cinquentenário dos lançamentos, o festival montou um projeto liderado por Kiko Dinucci e Juçara Marçal, que convidam ao palco Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Linn da Quebrada, Jadsa Giovani Cidreira para interpretarem um roteiro que amarra conceitualmente todos esses trabalhos.

Compositor e vocalista da banda O Terno, o multi-instrumentista Tim Bernardes homenageia a trajetória de Gal Costa com um show dedicado inteiramente ao seu repertório. O paulistano participou do último disco lançado por ela (Nenhuma Dor), na faixa Baby, e também de sua última apresentação, em setembro de 2022, dois meses antes da morte da cantora.

"Como as atrações brasileiras circulam mais pelo país, foi muito importante pensarmos em shows inéditos que contemplassem a nossa música. A música brasileira tem a mesma importância e tamanho do que é produzido lá fora e é a maior tradução do que o Brasil é hoje para o mundo. Portanto, tem um lugar de muita relevância dentro do festival, a ponto de fazermos uma programação inteira dedicada a ela", explica Felipe Hirsch.

Na vanguarda da música brasileira, a cantora e compositora baiana Xênia França faz um tributo aos sons da diáspora negra, numa fusão de soul, jazz, samba e R&B, e o grupo Terno Rei apresenta no Rio de Janeiro a turnê de seu disco mais recente, Gêmeos, de 2022, que teve ótima repercussão da crítica especializada.

O cantor Russo Passapusso (Baiana System) e a Big Band Nômade Orquestra, projeto criado no ABC paulista há mais de dez anos, convidam o cantor BNegão (Planet Hemp e Seletores de Frequência) e a cantora Kaê Guajajara para um repertório que mistura jazz, funk e rock, a marca registrada do som do grupo.

A programação nacional se consolida na voz de um dos mais importantes cantores e compositores da história da MPB. Aos 80 anos e com quase 60 de carreira, o sempre relevante Caetano Veloso leva ao festival o show de Meu Coco, seu último álbum, o 30º de estúdio de sua trajetória.

C6 Fest resgata também o espaço comum a todos os palcos, o histórico Village, e celebra uma parceria inédita com o Grupo Tokyo, que assina uma curadoria de Djs para o festival: Disco Tehran, Gop Tun Djs, Pista Quente, Festa Luna, Feminine Hi-Fi, Selvagem, Deekapz e Cremosa Vinil.

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