Will Santana se consagra entre os melhores surfistas de ondas grandes do mundo

Quem vê apenas pela tv o tamanho das ondas de Nazaré, em Portugal, e Mavericks, nos Estados Unidos, tem certeza absoluta que nada pode ser mais desafiador na vida de um surfista de ondas gigantes do que isso. Mas essa não é uma verdade absoluta. Pelo menos para aqueles que não nasceram em berço de ouro. Esse é o caso do Willyam Santana. Nordestino natural de Aracaju e nascido em uma família de classe baixa no menor estado brasileiro, Sergipe, o atleta de 33 anos passou por grandes dificuldades para realizar seu sonho de criança.

Se faltava grana e apoio dentro de casa ainda na adolescência quando já tinha certeza que queria viver do surfe, sobrou fé, disciplina e perseverança para alcançar os seus objetivos, um por um os percalços que apareceram pelo caminho até pegar sua primeira onda de verdade.

Isso porque suas primeiras manobras só eram possível no imaginário daquele menino sonhador sob o colchão da sua cama. Sem dinheiro para comprar uma prancha e morando na zona norte de Aracaju, a quilômetros da praia, só restava a Will imaginar os dropes e as rasgadas em cima de uma tampa de isopor.

Até que o primeiro contato com o surfe surgiu através de um primo, que tinha uma condição financeira melhor e morava perto da praia. Foi a primeira vez que viu uma prancha de verdade, até então o mais próximo que ele havia chegado eram das capas de revistas.

De volta à sua realidade, tudo mudou num simples passeio de bicicleta ao passar por uma oficina de moto e avistar uma prancha de surfe pendurada na porta. Curioso como todo adolescente, perguntou ao dono que prancha era aquela. A resposta foi inusitada. "Um cliente consertou sua moto e como não tinha dinheiro para pagar deixou a prancha como garantia, mas nunca mais voltou pra pegar".

Will não pensou duas vezes e perguntou se ele venderia aquela prancha. Diante de uma resposta positiva, o adolescente sonhador de apenas 13 anos correu pra casa com um plano já arquitetado na cabeça. Ciente de que sua família não teria dinheiro e tampouco o apoiaria na compra do seu sonho de consumo, Willyam não viu outra alternativa senão pegar uma bicicleta da irmã mais velha e trocar pela prancha na oficina. Seu Luiz, o dono do estabelecimento, ainda perguntou se sua mãe sabia daquilo e tinha deixado. Sem titubear, ele disse que sim. Negócio fechado, o desafio agora era conseguir esconder aquele trambolho dentro de casa. A confusão era questão de tempo.

"Cheguei em casa tentando esconder a prancha, mas era muito grande e não consegui. Minha mãe me perguntou como eu tinha conseguido. Enrolei ela e só contei um tempo depois quando ela já estava bem mais tranquila", lembra.

Com seu objeto de desejo em mãos, aquele menino sonhador conheceu o mar, acreditando que dali tudo poderia ser possível, ganhou algumas competições até que foi parar no Rio de Janeiro. A paixão pela Cidade Maravilhosa foi à primeira vista. Ainda sem grana para competir e desconhecido, Will "vendeu seu estilo de vida" e passou a dar aulas de surfe para quem se interessasse, incluindo alguns atores famosos como Juliano Cazaré, Dani Suzuki, Bernardo Velasco, Pérola Farias, Arthur Aguiar, entre outros. O encontro com Dani, que o ajudou a tirar seu primeiro passaporte e o proporcionou a sua primeira surf trip para a Costa Rica, mudou seu destino e abriu muitas portas.

Mas, curiosamente, se tornar campeão mundial nunca fez parte dos seus objetivos, o mais ansiava em seu coração era surfar as maiores ondas do mundo, Will queria mesmo era desafiar as tão temidas ondas de Nazaré. Parecia um sonho muito distante para um nordestino de família humilde, sem qualquer estrutura profissional e recém chegado ao Rio de Janeiro. Até que um encontro com João Chumbinho, acabou selando de vez seu destino. A amizade cresceu, o Will acabou ficando também amigo do Lucas Chumbo que é simplesmente um dos melhores surfista de ondas grandes do mundo, que acabou emprestando uma prancha para Will em uma viagem para o México, onde entrou uma ondulação muito grande e Will acabou conseguindo surfar uma onda gigante em Puerto Escondido, em Zicatela, num pico aterrorizante e que muitos surfistas experientes temiam, mudou sua vida.

Com uma prancha 9.2 do amigo e diante de um mar gigante, Will pegou uma onda de 25 pés, que acabou viralizando. O feito apareceu em vários veículos especializados do mundo inteiro e o até então desconhecido surfista sergipano entrou no mapa das ondas grandes. Até que veio o convite para surfar a tão temida onda de Nazaré, a maior onda do mundo. Lucas Chumbo convidou Will e, logo na sua primeira onda no tow-in em Nazaré, ele já fez história. Ali começou a mudar o seu destino e a sua vida. Hoje, ele está entre os melhores surfistas de ondas grandes do mundo, e em sua primeira temporada em Nazaré, conseguiu não só fazer um feito histórico, como também conseguiu os convites para as principais competições.

Atualmente, ele é um dos grandes nomes dos atletas selecionados e convidados para participar do Gigantes de Nazaré, uma das principais competições da modalidade que acontece todo ano nas temidas ondas portuguesas.

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